Nos bastidores de 82...

COrTE NA CaSAcA,
Hoje em dia são tantas as tecnologias ao nosso alcance que, mesmo aqueles que vivemos muitos anos sem computadores, já quase esquecemos como era a nossa realidade há quatro décadas atrás... O COrTE NA CASAcA apareceu numa altura em que os jornais e os textos passava obrigatoriamente pelo papel e pela tinta e, na melhor das hipóteses, pelas fitas da máquina de escrever. A realidade económica, pautada pelas dificuldades pós revolução, não se comparava com a de agora e, se pensarmos que foram exclusivamente as magras "semanadas" de dois jovens que financiaram as publicações do jornal, conseguimos ter uma ideia sobre o orçamento disponível para a feitura do mesmo. É verdade que a publicidade também existiu mas, as quantias quase simbólicas que se cobraram a partir do segundo número, mal davam para os gastos das fotocópias tiradas na cooperativa "Novos Pioneiros" em Braga...


  • A feitura do COrTE NA CaSAcA

As edições do COrTE NA CaSAcA sempre foram em papel, tamanho A4 e as matrizes eram construídas através de vários recortes que eram colados uma folha A3. Grande parte dos textos era originalmente escrito à mão mas, quando dactilografados, eram utilizados rolos de máquina registadora para criar o texto em colunas. Posteriormente, se fosse necessário retirar ou acrescentar um parágrafo ao artigo, ficava mais fácil cortar e colar... Não existiam ainda editores de texto mas, desta forma, economizava-se tempo e dinheiro! Por sua vez, a publicidade e os cabeçalhos das rúbricas eram criados em pequenas cartolinas, plastificadas, coladas com quadradinhos autocolantes de dupla face, geralmente utilizados nos álbuns de fotográficos, que após a edição de cada número eram descolados para serem reutilizados no número seguinte.

Compreende-se que não foi fácil remontar todos os números do jornal, mas com a ajuda do digital foi possível fazê-lo, tentando ser o mais fiel possível à imagem de então.


  • O processo de duplicação

O jornal era apresentado a preto e branco, fotocopiado. Comparativamente, hoje uma fotocópia fica muito mais barata do que na altura, e foi necessário socorrermo-nos de meios alternativos de impressão para controlar custos. Para tal, houve edições com páginas duplicadas através do método de reprodução de documentos por meio da transferência de tinta usando uma solução base de álcool. Basicamente tratava-se de um tabuleiro de alumínio de ir ao forno, que era preenchido com gelatina transparente, que depois de solidificar lhe era aplicada uma matriz desenhada a partir de um papel químico especial. Essa matriz ficava impregnada na gelatina e, posteriormente, as folhas a copiar, de papel fino com uma face polida, eram colocadas uma a uma na superfície gelatinosa ficando marcadas com o desenho proveniente da matriz. Era um processo muito lento mas muito económico! Também foi experimentada a técnica de duplicação a stencil, mas isso apenas aconteceu num dos números.


  • A composição

As edições contaram, normalmente, com 4 páginas. Uma edição por outra teve mais uma página com avisos ou um suplemento de reportagem. A realidade do vivida então tornava necessária a contenção no número de páginas pois isso influenciava grandemente no custo da edição. Mas, embora importante, não seria esse o único motivo que fazia decidir o número de páginas e cada edição... A ideia original, esperava uma participação mais expressiva dos leitores e maior número pseudónimos a garantirem rúbricas regularmente. Mas tal não foi realidade! A tão esperada cidadania participativa não estava na moda, e os conteúdos frequentes foram assegurados por um punhado de nomes que gastaram muitas canetas "Bic" para garantir a composição dos nove números, o que é bem notório se atentarmos às republicações digitais do COrTE NA CaSAcA.


  • A tiragem

Não podemos assegurar o número exato de jornais duplicados em todos as edições. Inicialmente a tiragem rondava a centena de exemplares, quantidade que garantia um preço mais acessível por cópia.
O único documento existente em que se refere o número cópias das edições é uma folha de apontamento das despesas referentes aos meses de setembro e outubro de 1982. Daí em diante não existem registos que nos permitam afirmar com precisão a verdadeira tiragem do jornal... e passados 40 anos, a nossa memória também não :-)


  • A distribuição...

Os tempos eram outros e os meios de distribuição também... Grande parte dos jornais era vendido à porta do Pitéco, a todos aqueles que vinham tomar café. Sabíamos que quem entrasse sem comprar... Pedia emprestado para ler e não pagava! Era a "Bacôca" (Brigadas Anti COrte na CAsasa) :-)
Mas nem tudo era mau pois havia uma lista de assinantes, que pagavam adiantado a sua avença.

Também, por alturas da realização de um cortejo que visava angariar fundos para as obras da igreja, surge o melhor ardina de sempre, a trabalhar em exclusivo para o COrTE NA CaSAcA, vindo de Lisboa, com treino superior!
Eis a evidência fotográfica:

Na foto: Diogo Holbeche Trindade aos 4 anos de idade