Um quê da cidadania...

28-07-2022

Dom Queixote,
Volvido quase meio século após a revolução dos cravos, seria de esperar que a democracia no nosso país desse mostras de estar instalada de forma generalizada e vigorosa. Quando digo generalizada idealizo a sua existência, senão em toda, pelo menos numa parte significativa da população, nas instituições públicas, nos partidos políticos e, obviamente, nos agentes do poder local e central. Já quando digo vigorosa imagino que no dia-a-dia da nossa sociedade existam inegáveis evidências que são apanágio de um saudável funcionamento democrático.


Contudo, se pararmos um pouco para refletir no atual estado da nossa democracia, rapidamente concluímos que cada vez mais se fazem ouvir as vozes dos ideários radicais, longe das premissas de abril, e que a suposta força do poder do povo não se apresenta como o primordial objetivo de quem tem possibilidade e obrigação de defender e pôr em prática os valores democráticos.

Gastamo-nos em tricas partidárias sem valor, praticamos uma "visão clubística" da política, alimentando casos e casinhos, como se a vida fosse um jogo de futebol e a melhor atitude do cidadão perante a política se resumisse a gritar slogans, agitar bandeiras e vestir a camisola de intrépidos adeptos de um partido... Ficamos comodamente sentados a assistir aos dérbis parlamentares e, deslumbrando com as espaventosas retóricas aí apresentadas, perdemos o foco do que realmente é essencial: avaliar em consciência se as decisões que são tomadas pelos governantes fazem sentido, se são as melhores para o país, para cada um de nós, ou se apenas mostram servir outros interesses que não os do povo. A vida não é um jogo de futebol mas, quando se trata dos erros, das más decisões, dos abusos daquele que desde sempre foi o nosso club partidário, facilmente fazemos vista grossa, esquecemos, e ao invés de nos demarcarmos claramente disso, de usarmos a razão e de ter a coragem de dizer que o que está mal, está realmente mal... resignamo-nos porque afinal "isto está mal mas sempre foi assim..." e, pateticamente, ficamos orgulhosos quando o nosso partido ganha o campeonato, de preferência com maioria absoluta!

E para ajudar, para que não tenhamos que dar trabalho aos nossos frágeis neurónios (que são coisa que se pode gastar), passamos os dias a deixarmo-nos toldar pelo canto da sereia dos media que, através de harmoniosos coros de comentadores e fazedores de opinião que se assomam independentes, suavemente nos ensinam por onde devemos ir, apresentando diligentemente convincentes argumentações para explicar a mais bizarra situação, isso tudo sob as batutas partidárias .

Mas afinal, se há soluções porque é que muitos dos problemas existentes do nosso país se arrastam longamente no tempo? Porque é que, de quando em vez, surgem leis que não nos fazem sentido e são penosas para os portugueses (não todos)? Talvez porque não reajamos e sobretudo porque não pensamos, não formamos opinião própria, isenta, pura... Dessa forma, sem clareza de mente, a nossa participação ativa na cidadania fica comprometida!

E porque vivemos num país livre, pode o leitor continuar a votar em quem bem entender, nem que seja porque tem na gaveta a camisola daquele partido desde sempre...

Poder pode... Mas Eu Não Faria ISso!


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