Os Professores e os serviços mínimos

16-02-2023

Posso falar o que eu acho? @Rui Marques
"Os professores apenas querem que sejam decretados "serviços mínimos" nas suas carreiras, nas suas colocações, na contagem do tempo de serviço efetivamente prestado..."


É necessário recuar ao tempo dos governos de José Sócrates como primeiro ministro, e lembrar a sua ministra da educação, para ser possível tecer termos comparativos com a realidade atual no que concerne à mobilização dos professores.

Até então, Maria de Lurdes Rodrigues foi provavelmente a ministra da Educação mais criticada pelos sindicatos de professores e que teve de enfrentar as maiores manifestações de docentes. A história recorda-nos que, enquanto esteve à frente da Avenida 05 de Outubro, realizaram-se cinco grandes greves nacionais de docentes, uma das quais com uma adesão de 94 por cento, segundo os sindicatos, e de 66,7 por cento, segundo a tutela. Exigia-se a suspensão do modelo de avaliação de desempenho e uma "efetiva" revisão do Estatuto da Carreira Docente.

Os docentes realizaram ainda outras três paralisações, mais específicas: aos exames nacionais, distribuídas por quatro dias e por regiões, outra às atividades não letivas, como as aulas de substituição e, por fim, uma paralisação entre as 08:00h e as 10:30h.

Relativamente a manifestações, Maria de Lurdes Rodrigues sobreviveu a sete protestos de rua, os maiores de sempre realizados pela classe, sendo que a 08 de março de 2008 estiveram em Lisboa cerca de 100 mil docentes, números confirmados pela PSP, e oito meses depois cerca de 120 mil, segundo os sindicatos.

Os números não enganam e, comparando a luta dos professores no final da primeira década do século com a da atualidade, onde se registam frequentes manifestações com mais de 150 mil docentes, rapidamente percebemos que a contestação do momento é mais forte, mais duradoura e mais abrangente, pois do seu lado os professores contam agora com pais e assistentes operacionais.

Assim sendo, coloco-me a questão de perceber por que razão o ministro da educação e o governo permanecem fechados em si mesmos, a coberto de uma maioria absoluta (para a qual contribuiu muito a classe docente), desconsiderando a dignidade necessária do estatuto de professor, tentando, através de subterfúgios judiciais, impedir que justa luta continue...

Não estará já completamente claro que é necessário fazer algo pelos professores e pela sua carreira? Não será evidente o estado depauperado a que chegou a profissão docente, que esta necessita de ser revitalizada e dignificada? Isso é já algo que a sociedade percebeu e deseja que aconteça.

Portanto, entendo que um governo que se diz socialista, após tantas evidencias de tão massiva e permanente contestação, com óbvios e graves prejuízos para o regular funcionamento do país (pensemos nos alunos, nas aprendizagens, nos pais...) não teve ainda a hombridade de se colocar numa posição abertamente dialogante, que apresente uma franca vontade de colaborar na ultrapassagem da situação.

Os professores não são estúpidos, nem pretendem arruinar a economia do país... Apenas querem justiça! Apenas querem que sejam decretados "serviços mínimos" nas suas carreiras, nas suas colocações, na contagem do tempo de serviço efetivamente prestado...

Estão anunciadas mais greves... Percebo! Nada está a ser feito para ouvir claramente os professores. O pior que podia acontecer era esta luta parar! Parar agora era "morrer na praia", era claudicar perante a "partidarite" e os interesses instalados de quem tem milhões para TAPar, para BANCAr e para PALCar, mas nem um cêntimo para ser justo com quem, durante décadas, deu de forma abnegada o melhor de si...

Se vivemos numa democracia, onde os governos devem ser a voz do povo, há algo que não faz sentido neste momento! Há uma surdez que me faz temer... Quero crer que todo este esforço e união terão um final feliz... Quero crer os representantes dos docentes não vão entrar em nenhum jogo político-partidário e "entregar" os professores. Quero crer que não se esteja a "empurrar o problema com a barriga" para ser diluído numa qualquer crise governamental.

Já não vou nos otimismos do primeiro ministro. Mas quero crer!

Rui Marques

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