Sou uma ovelha negra
No meio de um rebanho
Tão branco que nem se vê.
Falam em etiquetas
Quando cruzo os talheres,
E eu contente
Mostro as etiquetas
Dos meus vestidos
De todas as cores
E riscas misturadas com flores.
E eles apenas calados
Abanam as cabeças, desagradados.
Interrompo sem licenças
Frases que soam cantadas
Em cantigas malfadadas.
E mesmo assim,
Ninguém ouve ninguém.
Custa-me distinguir
A mesa do pobre
Da mesa do rico,
Tão cegueta sou.
Só vejo as mãos
Que oferecem a casa
Se abertas ou fechadas
Se convidam com amor
Ou se gritam de punhos cerrados.
Seguidores, apenas abelhas e moscas
A lamberem o bolo acabado de arrefecer.
Agora já me entendem.
Sou um caso perdido.
Indubitavelmente,
Sempre serei.