Racismo no desporto

29-05-2023

Lady in Red,
"É necessário agir com medidas efetivas. No caso do futebol, os clubes têm que expulsar estes adeptos do estádio, estes adeptos que mancham a beleza do jogo".


Em muitos cenários diferentes exultei nestas crónicas os inúmeros benefícios que acredito estarem associados ao desporto. Este é, sem dúvida, um veículo para o bem-estar físico e emocional e é uma plataforma global para eventos solidários, entre muitos outros. Contudo, como em qualquer situação, há sempre o reverso da medalha. Isto porque o desporto também reflete o pior da sociedade.

O caso de Vinícius Júnior é apenas mais um numa extensa lista de incidentes em que os jogadores são visados por cânticos e insultos racistas. O caso tem feito "correr muita tinta" em Espanha. Vinícius foi apupado o jogo inteiro e é depois expulso. A expulsão foi, entretanto, revogada, mas o foco da questão é a continuidade, semana após semana, da existência deste tipo de situações – racismo e também xenofobia. Estes comportamentos arrastam-se no tempo. Saudações nazis eram recorrentes em muitos estádios e continuam a ser muito comuns em Itália, por exemplo. Em Portugal, nas décadas de 80 e 90, ainda era comum a exibição de símbolos de ódio pelos skinheads destes grupos de adeptos. Em 2004 o selecionador espanhol, na altura Luís Aragónes, insultou Thierry Henry e tratou-o por "negro de merda" – foi multado na irrisória quantia de três mil euros. Dez anos depois, em 2014, várias bananas foram lançadas para o relvado enquanto Daniel Alves se preparava para bater um canto.

Deste modo, esta problemática tem décadas e décadas e tem raízes muito profundas a nível histórico. Existe, em inúmeros países, e infelizmente incluo Portugal neste grupo, um racismo institucional, um legado do colonialismo que tem sido difícil de ultrapassar. Apesar de já muito ter sido feito, surpreende-me como ainda não estamos mais evoluídos neste tópico e na consciência que todos partilhamos a mesma base humana.

Assim, e para tentar não ser apenas mais um, Vinícius tentou identificar a origem dos insultos na bancada. Foram identificados e detidos três jovens com idades compreendidas entre os dezoito e os vinte e um anos. Na minha opinião, entristece-me ainda mais quando vejo a faixa etária de onde estes insultos parecem surgir. Supostamente devíamos estar a evoluir e não a manter comportamentos que deviam estar ultrapassados e não se manter perpetuados no tempo.

É necessário agir com medidas efetivas. No caso do futebol, os clubes têm que expulsar estes adeptos do estádio, estes adeptos que mancham a beleza do jogo. Estádios interditados significam quebras de receitas e aí os clubes ficarão bem mais motivados a tomar medidas efetivas. Além disso, os patrocinadores das competições têm que agir caso não estejam a ser tomadas medidas adequadas. Por exemplo, a Puma e o Santander, patrocinadores de Valência e da La Liga, apoiaram Vinícius e parecem colocar em causa a manutenção dos patrocínios para a próxima época.

Os debates públicos insistem em perguntar se temos ou não um problema de racismo, sendo este ainda tão evidente, em vez de passar à discussão de políticas e maneiras de reduzir os fossos sociais que ainda se encontram tão presentes. Urge reconhecer que este ainda é um flagelo da nossa sociedade, compreender as suas origens porque ainda se mantêm, e trabalhar no sentido de mudar as mentalidades.


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