Querida Mãe

22-12-2022

Növa Lisa,
Querida mãe.
Já vi o Natal com outros olhos. Perdoa-me, mas não sinto a mesma euforia ao decorar o pinheiro. Questiono-me da ausência de alguns e dos demasiados abraços natalícios que até os pulmões me fazem doer. Querida mãe, adorava ver-te de novo abrir a porta da sala para nos chamar para consoada, acender as velas, fazer um passeio no meio da neve. O Natal era a época mais desejada do ano, tudo me encantava, não parávamos de cantar canções de natal. Sentia imenso amor. Amor nos olhares, nos abraços. A refeição era um convívio alegre. Agora sinto cansaço, e não o convidei.


Querida filha.

Sim, era colocado muito amor em tudo o que fazíamos. Mas filha, é exatamente esse amor que ficou no teu coração. O Natal é uma herança. Uma herança de bons momentos, mas também um ensinamento de partilha, de mimos, de abraços, de lágrimas de saudade. É tão forte que perdura até à próxima consoada. Filha, a tristeza também existe, o cansaço e a desilusão. Eu também os sentia, mas o meu amor por vocês vencia sempre. A vossa alegria era contagiante.

Filha, faz o seguinte. Acende uma vela no dia de Natal, só para ti. Tira uns momentos. Recorda os muitos bons momentos que já sentiste, que viveste unida com quem te ama. Agradece-os. A gratidão é um dos sentimentos mais fortes. Ela faz-te sorrir. E, enfeita o teu pinheiro, à tua maneira, coloca em cada peça um sonho teu. Veste o que te faz feliz. O natal não tem regras de etiqueta. Faz um doce para ti, saboreia com prazer. Canta as canções que se soltam do teu coração. E olha à tua volta com amor. Com muito amor. O Natal é isso. Não é perfeito. É vivido. É intenso. E presenteia-te também. Da maior prenda já desfrutamos, filha. De poder viver mais um dia.

Amo-te, és o meu Natal.