Qatar 2022

24-09-2022

Lady in Red,
Como certamente a maioria da população mundial tem conhecimento, o próximo Mundial, a iniciar em novembro deste ano, tem lugar no Qatar.


O Mundial é um acontecimento de união e congregação em redor dos países participantes. Conheço muita gente que nem aprecia futebol, mas acompanha religiosamente todos os jogos da seleção e se transforma nesta época. Conheço também outros que marcam férias só para ver os jogos, mas aí já estamos a falar de um nível de dedicação diferente. E conheço muito bem quem tenha como maior arrependimento de vida até à data ter marcado uma viagem para a hora da final do Euro 2016 e nunca mais fará tal imbecilidade - esperemos agora que a seleção corresponda e chegue efetivamente a mais alguma final durante o tempo de vida deste indivíduo (de empate em empate talvez cheguemos lá).

Apesar de todo este sentimento de harmonia e convergência, o Mundial do Qatar está, há muitos anos, assombrado por diferentes polémicas - daquelas que nos levam novamente à parte sombria deste fantástico desporto. O futebol é universal e atrai a atenção de milhões de pessoas no mundo inteiro. Contudo, como na generalidade ocorre, coloca também os milhões à frente de qualquer outra prioridade ou oportunidade de vincar uma posição.

A questão colocada por muitos foi como é que foi possível este país, cuja seleção é atualmente a quadragésima oitava no ranking da FIFA, conseguir convencer a FIFA a efetuar um Mundial no fim do Outono, algo inusitado e que baralhou completamente a época desportiva. A resposta parece ser óbvia e residirá certamente no dinheiro. Desde o início que existem suspeitas de corrupção, além das mais que evidentes violações de direitos humanos, exploração de migrantes, precaridade laboral, entre outros. Estima-se que mais de 6,5 mil migrantes tenham morrido em construções relacionadas com a competição - contudo a FIFA espera encaixar cerca de 4,6 mil milhões de euros com este Mundial. Além disto, a FIFA e a UEFA embarcam cada vez mais na promoção do futebol feminino e este Mundial tem lugar num país onde as mulheres tem um papel muito limitado na sociedade - contudo a FIFA espera encaixar cerca de 4,6 mil milhões de euros com este Mundial.

O futebol é o desporto do povo, mas há muito que deixou de ser um desporto regido pelo povo. Alturas de Mundial ou Europeu são das minhas épocas preferidas e o futebol puro honra a nossa diversidade cultural. Contudo este mundo empresarial do futebol faz dele apenas mais um negócio. Houve muitas manifestações, mas não haverá um boicote efetivo ao Mundial. Esperemos que tenhamos aprendido algo e que estas circunstâncias não se repitam - contudo se a FIFA da próxima vez encaixar cerca de 7 mil milhões certamente irá ser uma realidade.

P.S.
Aparentemente uma alma penada da embaixada portuguesa em Doha achou que os trabalhadores de tom de pele mais escuro estariam, segundo ele, mais aptos a trabalhar debaixo de temperaturas acima dos 40 graus. A abençoada alma poderia ser realocada para a Antártica assumindo que a sua pele mais clara o ajudaria a suportar temperaturas abaixo dos 40 graus. Poderia publicitar o futebol por lá, pioneiro do seu tempo.