Ser Professor é Sofrer!

15-06-2024

Posso falar o que eu acho? @Rui Marques
"Se formos a pensar bem, se quisermos ser claros e honestos, concluímos rapidamente que neste momento ser Professor em Portugal é sofrer!"


Quem frequentou a escola até ao 25 de Abril conheceu claramente o antes e o depois da realidade de ser professor em Portugal. Do tempo da palmatória, da régua, da cana sevíciadora e das "orelhas de burro", passamos para o tempo da desconsideração, do desrespeito, da afronta e da má educação… Na minha opinião, não passamos do oito ao oitenta, passamos de um modelo ultrapassado e imperfeito ao descalabro…

Nos últimos anos a classe docente e a sua luta profissional foram notícia de abertura de muitos noticiários. Com as recentes eleições legislativas e com o novo governo, tudo leva a crer que a classe recuperou alguma dignidade com a famigerada recuperação do tempo de serviço prestado e, implicitamente, algum respeito via o argumento salarial. É um princípio, é um começo, mas creio que, embora se revista de grande importância para os docentes, esse não é o busílis da questão nem nos afasta do descalabro.

Ser professor não é ser qualquer coisa… Todas as profissões são dignas, mas há algumas que, notoriamente, são particulares, mais que não fosse porque influem grandemente na vida de cada um e, frequentemente, demarcam o seu futuro e a sua vida. A docência é uma delas e, só por esse facto, não a devemos considerar como algo que possa ser olhado de forma simplista.

Ser Professor implica ter a capacidade de planear, organizar e desenvolver aulas dinâmicas e motivadoras, algo essencial para prender a atenção dos alunos e promover a sua aprendizagem. Ser Professor implica ter a capacidade de criar um ambiente de sala de aula positivo e disciplinado que é fundamental para que os alunos se sintam seguros e motivados para aprender. Ser Professor implica a colaboração com os outros colegas, pais, encarregados de educação e a capacidade de trabalho em equipa e comunicação interpessoal. Ser Professor implica ser independente, livre, justo e capaz de avaliar o progresso dos alunos de forma construtiva. Sobretudo, ser Professor é comunicar e isso exige entusiasmo, paixão pela área de conhecimento que leciona, um compromisso com a aprendizagem dos alunos e, sobretudo, RESPEITO! Respeito dos alunos, respeito dos pais, respeito dos superiores hierárquicos, respeito da sociedade e da classe política!

Assim, se formos a pensar bem, se quisermos ser claros e honestos, concluímos rapidamente que neste momento ser Professor em Portugal é sofrer!

É sofrer porque nada, além dos telemóveis, consegue prender a atenção dos alunos… Por mais que se empreguem todas as teorias já publicadas dos doutoramentos em didática, o smartphone ganha cem a zero!

É sofrer, porque a indisciplina e a falta de educação reinam na postura de grande parte dos alunos, remetendo o que devia ser um Professor a algo que não consigo adjetivar sem ter que recorrer a uma expressão que aqui não quero utilizar…

É sofrer porque nem todos temos a mesma capacidade de resiliência… Por mais que se queira, há sempre quem não consiga resistir eternamente e sucumba perante a crua realidade, cedendo e inquinando o trabalho em equipa e todo o processo educativo…

Sobretudo é sofrer porque, na essência, ser Professor é comunicar, e não é possível estabelecer diálogo ou passar mensagens a alguém que não está preparado para imaginar que a vida vai além do que replicar as coreografias do TikTok.

É sofrer porque a liberdade, a independência e a justiça não estão disponíveis nos momentos da avaliação. O professor, reduzido agora à escrita com letra minúscula, está sujeito às pressões sociais, às pressões políticas e ao instalado desrespeito pela profissão que, literalmente, limitam a sua autonomia…,

Ser Professor é sofrer mas, curiosamente, ainda há muitos e excelentes Professores, com "P" maiúsculo, talvez porque um dia um outro Professor lhes falou de Sebastião da Gama, e os tocou afirmando que "Pelo sonho é que vamos"!


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