Pichardo vs Évora

18-04-2023

Lady in red,
"Nélson e Pedro encetaram uma verdadeira novela mexicana com bate-boca em podcasts e através das redes sociais."


                O mês de março foi fértil na análise da polémica relação entre Nelson Évora e Pedro Pichardo. Até o Chega requereu uma audição com a ministra da Justiça e do Secretário de Estado da Juventude e do Desporto para que esclarecessem os parâmetros associados ao processo de naturalização de atletas.

Nélson e Pedro encetaram uma verdadeira novela mexicana com bate-boca em podcasts e através das redes sociais. De uma forma muito sumária, Évora acusou a nossa Federação Portuguesa de Atletismo de comprar um atleta para ter resultados no curto prazo e mencionou que não existe um futuro assegurado. Pichardo respondeu com um longo discurso que basicamente acusou Évora de lhe chamar prostituta e a indiciar que o mesmo apenas não conseguia lidar com o facto de Pichardo estar a ter uma carreira mais bem-sucedida.

O poder da palavra é algo muito importante e que tantas vezes ainda nos esquecemos. Se porventura não se tivesse utilizado o termo "comprar" ou se a conversa fosse direcionada para como a Federação de Atletismo poderia melhorar as condições para garantir o futuro da modalidade… Contudo, como comuns mortais que somos, preferimos sempre a vertente do "mexerico". Estes dois atletas deveriam ser encarados como uma referência desportiva e ser um exemplo a seguir. É importante focarmo-nos em outras características que não a nacionalidade com que nasceram. Muito na nossa vida é feito de escolhas e não das condições associadas a nós mesmos – como o local onde nascemos, a família que nos cria, etc…

Sou patriota até mais não e faço tudo para ignorar os inúmeros defeitos do nosso país, focando-me nas suas fantásticas virtudes. Contudo há muita gente, nascida nos mais variados pontos do globo, que não tem essa sorte. Simplesmente porque desejam algo que não é possível atingirem nesse local ou porque simplesmente o local onde nasceram é assolado por eventos devastadores de forma quase constante.

Nelson Évora e Pedro Pichardo são campeões olímpicos do triplo salto, atingindo esse feito com as cores portuguesas. Para além desses pergaminhos, têm em comum o facto de terem nascido fora de Portugal e terem adquirido a nacionalidade portuguesa. Têm em comum o facto de terem escolhido o nosso país para os acolher. Desde que o façam com respeito e que haja uma cultura de mérito e justiça no alcance dos objetivos a que se predisponham, em igualdade de circunstâncias com todos os outros portugueses, é aceitável. Considero que os processos de naturalização têm que ser acautelados para garantir um modelo de justiça e que seja comum a todos os que o querem iniciar, mas que, tal como em todo o lado, a diversidade é algo positivo e que nos faz ver as coisas de um modo diferente.

O nosso país é o nosso país, mas tal como não estabelecemos relações apenas com a nossa família, na qual nascemos, é importante saber lidar de forma saudável com os desvios ao que se considera a norma. O mundo é um lugar muito maior do que apenas o nosso cantinho e a empatia é das melhores qualidades que podemos almejar possuir.   


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