A pressão para “encaixar” na sociedade: ceder ou não ceder?

13-09-2022

Posso falar o que eu acho? @Marta Falcão
Desde muito cedo que ouvimos nas crianças expressões como: "não quero levar essa tshirt para a escola, quero aquela igual à do Zé"; "tens que me comprar sapatilhas novas; estas estão velhas e já ninguém tem..."; "todos tem um telemóvel menos eu". Ora parece que a partir de uma certa altura o principal objectivo passa a ser "encaixar", "não destoar", "sermos cópias uns dos outros"! E ai de quem não o seja: será falado, será afastado, será a peça do puzzle que não encaixa em lado nenhum...


Existem mesmo casos em que se desenvolve ansiedade, só de se pensar em sair de casa sem o outfit completo. Pois é... Quando se é jovem, não é fácil ter pressão dos dois lados: ora os pais a pressionar em casa para não cederem à pressão dos pares, ora os colegas a pressionar na escola para serem "cool" e não cederem às imposições dos pais...

Vida de adolescente não é fácil! Mas acreditem, a vida de adulto ainda se torna mais tempestuosa. Pois a pressão social vai aumentando com a idade... A grande diferença é que os adultos à partida, vão amadurecendo e, com isso desenvolvendo ferramentas para se defenderem de eventuais comentários depreciativos.

Mas na ausência de um ambiente sócio-familiar harmonioso, pode começar aqui o desenvolvimento de um indivíduo ansioso, inseguro ou com uma auto-estima fragilizada.

Todos os caminho da vida, em algum momento têm pedras, muros, precipícios e fortes rajadas de vento que nos deixam meio atordoados, perdidos ou ansiosos. Mas podemos sempre crescer com esses desafios e inverter esse cenário tempestuoso. Cabe aos pais e educadores, dotar as crianças de competências sócio-emocionais que lhes permitam serem elas mesmas sem se sentirem rejeitadas.

Além disso, é cada vez mais importante ter noção de que não precisamos ser "queridos" por todos, nem de ter 500 amigos nas redes sociais para nos sentirmos bem, apesar do Facebook e do Instagram nos dizer que temos centenas de supostos amigos ou seguidores... O facto de nem sempre agradarmos aos outros, não implica sentirmos a sua rejeição.

A rejeição não vem de fora, vem de dentro! E só a sentimos quando nos prendemos erradamente à ideia de que é importante ser aceite e amado por todos... Ora, de certo modo, isso até poderia ser uma grande chatice.... Refletindo e pensando bem no assunto, de certa forma até pode dar um certo jeito não nos esforçarmos demasiado para gostarem de nós, nomeadamente com aquele vizinho que "fala pelos cotovelos" e que não deixa seguir viagem no elevador, ou então com aquele colega que só fala das suas borgas, do tempo, do futebol, das unhas ou do cabelo e interrompe a nossa concentração 20 vezes por dia. Ora aqui estão bons exemplos, em que não sermos demasiado "queridos" pelos outros pode dar um certo jeito para conseguirmos entrar no elevador e ter mais algum tempo para nós ao chegar a casa, ou para sermos mais produtivos no trabalho ou na escola.

Quem tem medo da rejeição, passa a vida a fazer favores aos outros e a viver a sua vida em função do marido, da mãe, do pai, da amiga, da avó, do colega e por aí fora.... Claro que a opinião positiva, os elogios e o reconhecimento do nosso esforço pelos outros, são aspectos muito importantes que impulsionam a nossa dedicação à vida, mas não devem ser o motor de arranque. Podem até ser a potência extra que nos leva a acelerar a motivação para a ação, mas o motor de arranque somos nós!

E posso falar o que eu acho?
A partir do momento em que nos aceitamos com todos os defeitos e qualidades, ganhamos amor próprio e a pressão para encaixar deixa de fazer sentido. A vida não pode ser um puzzle perfeito que concluímos para mostrar aos outros emoldurado e exposto numa parede lisa e branquinha. Que a vida seja antes uma torre irregular de peças de várias cores e formas, que podemos derrubar, alterar ou reerguer as vezes que forem precisas ao longo desta nossa caminhada!

Marta Falcão