Os portugueses e as esquinas...

28-07-2023

Jolei,
"Já todos ouvimos ou mesmo empregámos expressões como "vai ver se estou na esquina" ou "dobrar a esquina"


Já todos ouvimos ou mesmo empregámos expressões como "vai ver se estou na esquina" ou "dobrar a esquina". A primeira sinonimiza "não me incomodes", isto é, "vai esfriar a cabeça enquanto passeias até encontrares uma esquina". A segunda quer dizer "virar o sentido de rumo", generalizada quiçá, a partir do momento em que se soube que navegadores portugueses haviam "dobrado" o Cabo das Tormentas.

Esquina designa em geometria ângulo exterior e etimologicamente provém do germânico SKINA que significa "barra de madeira ou de ferro". Se o leitor não descobre qualquer relação semântica entre o significado e a origem etimológica da palavra, eu também não, exceto se a barra possuir forma paralelepipédica, portanto com arestas.

No princípio do mundo, quando os polícias patrulhavam as ruas, costumavam posicionar-se estrategicamente numa esquina para obterem maior visibilidade. Era também nas esquinas que certas meninas se mostravam ao que andavam pelo mesmo motivo. Alguns estabelecimentos comerciais, como cafés ou lojas de roupa também privilegiavam as esquinas para ficarem com frentes para duas ruas.

É evidente que estou a aludir a esquinas volumétricas e não aos bicos dos desenhos da maioria dos canteiros de jardins arrelvados. Mas é sobre estes que pretendo trocar ideias convosco, porque se já repararam não há canteiro com vértices que não possua um atalho trilhado por passagens contínuas, alguns mesmo já esburacados por tanto uso que até os cachorros de trela os utilizam. Há jardineiros que plantam propositadamente arbustos e mesmo árvores para dificultar a passagem, mas não adianta. As pessoas teimosamente recriam novo atalho mesmo que enterrem o calçado na lama se for dia de chuva. Já observei postes de iluminação plantados no ângulo interno de esquinas. Mas os nossos lusitos arranjam sempre maneira de o contornar passando por trás. Andam sempre apressados ou porque vão atrasados para o seu destino ou por pura preguiça de dar mais uns passinhos.

Então há algo que está errado. Ou os jardineiros não sabem desenhar relvados ou as pessoas são todas uma nulidade em geometria. Concorda o leitor que todos os canteiros deveriam ser de desenho circular ou não deveriam existir relvados e canteiros e antes jardins de cimento de preferência esburacados?

Bom, mas em determinados desenhos chega-se ao cúmulo de criar esquinas com quase 360 graus. Há um caso desses perto da minha casa. A geometria ao serviço da estética. O aspeto é uma espécie de bico de cegonha. O problema é que ali não dá para trilhar qualquer atalho, porque o terreno é inclinado. Então o lusito que manda naquilo, profundo conhecedor destas esquisitices ou esquinopatias portugas, estilo presidente de junta, já entenderam, mandou que fosse criado um atalho interior forrado a pedra e que plantassem um arbusto na ponta. Mas aí os nossos heróis lusitanos trocaram-lhe as voltas e desde logo que passaram a dobrar a esquina cruzada apenas num passo transformando o arbusto num pisoteado de elefante. Entretanto, a relva tomou conta do trilho calcetado e o bico quase se tornou impercetível. Bravo lusitos!

E o leitor, é dos que trilham, ou dobram esquinas? Ou nunca tinha refletido antes sobre esta questão. Na verdade, é que são tantas as coisas importantes que preenchem o nosso quotidiano que nem nos apercebemos dos sítios por onde caminhamos.


Se gostou deste artigo,

siga o COrTE NA CAsAcA

WhatsApp