O poder dominó de uma fofoca

06-02-2023

Posso falar o que eu acho? @Selma Gören
Cada um é livre como um passarinho decidir o que faz com uma uma cusquice vil que lhe acabara de voar nas mãos.


Alinhando na vertical pedras de dominó em linhas retas, curvas, por cima de pontes aéreas, integrando obstáculos e ramificações estrelares, entre outros, obtemos um quadro desafiante e vistoso. A pessoa que tomba a primeira pedra para dar origem a uma queda em massa, está em pulgas. O dedo irrequieto cumpre a missão. Depois do primeiro toque, as peças rapidamente tombam, uma atrás da outra. Olhares ansiosos acompanham a "destruição" vitoriosa, até, finalmente, a última peça sucumbir. De vez em quando, uma pedra mal colocada, ou grande demais, resiste e interrompe a queda em cadeia. A plateia suspira e depressa intervém para dar continuidade ao espetáculo. O que foi construído com entusiasmo durante horas longas cedeu ao silêncio dos destroços.

Para mim, uma fofoca tem essa imagem. Uma maledicência, inventada, ou até verdadeira, mas que não faz falta nas vidas alheias do povo, tem esse efeito destruidor. Desencadeada por motivos pessoais, por exemplo a inveja a coçar o olho direito ou o tédio o olho esquerdo, alguém incendeia uma corrente que mais depressa se espalha do que os tombos das pedras do dominó. E, de vez em quando, alguns corajosos a interrompem, fazendo ouvidos moucos ou colocando cada pedra no seu lugar.

Mas porquê essa língua solta? Leandro Karnal refere no seu livro, A detração, que um dos motivos é fomentar uma união. Odiar com aliados é mais fácil do que só. Outro é a auto-elevação focando-se nos defeitos dos escolhidos.

Cada um é livre como um passarinho de decidir o que faz com uma cusquice vil que lhe acabara de voar nas mãos.

Mas antes de abrir a boca, vale a pena pensar duas vezes.

Selma Gören


Se gostou deste artigo,
siga o COrTE NA CAsAcA

WhatsApp