O poder do voto...

30-03-2024

Dom Queixote,
"O problema coloca-se quando existem votos em branco. Básica e teoricamente somos levados a pensar que eles também terão o seu valor. E têm! Mas não para si que é um simples eleitor…"


No anterior artigo de MENFIS, foi abordado o facto de ter havido eleições e de o povo ter dado a sua opinião. Disse também que parece terem sido necessários 50 anos para que a sociedade percebesse que a estabilidade da governação de um país não depende de maiorias absolutas, mas da pluralidade de ideias e, sobretudo, da mentalidade e espírito democrático de quem nos governa.

Reitero que, na minha humilde opinião, cada voto vale por si e, no dia-a-dia do país, deve sentir-se a sua correspondente expressão e representatividade.

Até aqui parece que tudo faz sentido e que aquilo que afirmo não traz novidade alguma. Parece, mas não é…

Baralhado?

A verdade, verdadinha, é que todos nós pensamos que vivemos num sistema democrático, maduro e validado pelo 25 de abril. Acontece que não é bem assim.

Cada voto tem um peso. Isso é verdade. Os votos num determinado partido revertem a favor dele no mesmo dia em que que se realizam as eleições. Os votos nulos não revertem a favor de nenhum partido em particular, mas revertem monetariamente a favor de todos. Curiosamente, os votos não votados, vulgo a abstenção, também têm um peso, pois não revertem a favor de ninguém, ao não terem expressão monetária nas subvenções atribuídas aos partidos políticos no "lavar dos cestos" das vindimas eleitorais. Portanto todos os votos têm valor: os válidos, os nulos e até os votos que não foram votados.

O problema coloca-se quando existem votos em branco. Básica e teoricamente somos levados a pensar que eles também terão o seu valor. E têm! Mas não para si que é um simples eleitor… 

Baralhado de novo?

É verdade! Em Portugal, se um eleitor comum, no dia em que se realizam as eleições (sejam elas legislativas, presidenciais, europeias ou autárquicas) decidir votar em branco, não assinalando a sua intenção de votar em qualquer um dos concorrentes, aquilo que acontece é que, esse ato, essa intenção, não tem qualquer expressão, não é tida em conta! Quando muito, é referida nas televisões, no rol das estatísticas eleitorais, como um número percentual. Nada mais. Sem dúvida que esses são os votos "enteados". Fazem parte da família, mas ninguém lhes dá o verdadeiro valor (valem apenas para para engrossar as subvenções partidárias, para isso sim...)

Mas desengane-se o leitor se pensar que todo e qualquer voto em branco não tem expressão… Há uns votos em branco que têm expressão, que valem… 

Certamente que todos nos apercebemos, durante o deplorável espetáculo que foi o processo de eleição do Presidente da Assembleia da República, que afinal há votos em branco que valem…  , aí os votos em branco tiveram valor. São os votos "filhos". Fazem parte da família com plena expressão e valor. Se nessa eleição os votos em branco dos deputados tivessem o mesmo valor do comum dos eleitores, o Presidente do Parlamento teria sido eleito à primeira, pois os votos em branco teriam apenas peso estatístico. Mas não… A realidade foi bem diferente! Foi preciso encontrar um número de votantes que suplantasse o peso dos votos em branco para que se elegesse o segundo mais alto representante da nação…

É… Lá na Assembleia da República conhecem o real valor de cada voto, mas dos votos do povo apenas consideram o que lhes interessa…

Dentro da Assembleia da República todos votos são considerados como se fossem a opinião de filhos, todos têm valor, até os votos em branco...  já fora, os votos em branco são tidos em conta como se viessem de enteados… apenas contam para engrossar as subvenções partidárias!

Certamente que é necessário repensar o valor e a expressão que se atribui a cada voto em branco. Se os votos em branco fossem plenamente tidos em conta, acredito que a abstenção seria bem menor e que contribuiria fortemente para uma nova forma de agir da nossa classe política.

Podemos continuar a aceitar que o nosso voto em branco seja um voto  "enteado"…

Poder podemos, Mas Eu Não Faria ISso!


Se gosta do COrTE NA CAsAcA
siga-nos no

WhatsApp