Manhã de outono

24-10-2022

Posso falar o que eu acho? @Anabela Reis
A preguiça relaxada, quando se acorda ao domingo, após uma semana densa de trabalho.


Acordo. Hoje o alarme Bixby não me lançou ao movimento dos dias comuns. Domingo. Sorrio sem me mexer e prevejo a semiobscuridade do quarto, antes de abrir os olhos. Recuso abri-los ao ouvir a chuva a riachar pela rua, a cantar nas varandas, a escorregar pelos caleiros e deixo-me banhar nas primárias sensações da manhã, nas primeiras chuvas de outono. Estas chuvas, de gotas grossas, que levam consigo os resquícios do pó do verão que ateiam o ar com o cheiro de terra lavada.
Sim, a terra está exausta do sol esbraseante, e sôfrega de sede.
Sim, também eu estou exausta da semana que terminou e sôfrega de descanso.
Junto ao teclado de gotas, as folhas das árvores que ainda restam, agitam-se em compassos de sopros.
Continuo de olhos fechados a saborear a melodia que me embala no relaxe do respirar profundo e no calor de entre os lençóis macios e de mantas de lã.
Acaricio a almofada moldada e penso que é cedo e ainda posso gozar esta festa quente e macia por mais alguns minutos. Entreabro as pálpebras e, na verdade pressinto que a manhã já vai avançada, pelo inclinado da luz que entra pelas janelinhas da persiana. - "Ah....! Não... importa...nada..."
E o conforto que reconforta a manter-me envolvida naquele calor fofo.
Não quero nem mexer-me, para não mudar nada do que é perfeito. Deixo-me estar dentro desta melodia harmoniosa, até ao último som desta sinfonia que o Virtuoso Maestro orquestrou.

Anabela Reis