Limpezas tardias & podas radicais

20-07-2024

Jolei,
"Depois há o genético hábito português de deixar tudo para o último dia. As limpezas a que assisti foram mal realizadas, porque apressadas, nos derradeiros dias de abril para evitar as coimas."


Como foi noticiado, o Governo decidiu prorrogar por mais um mês o prazo para os proprietários e produtores florestais procederem à limpeza das matas e terrenos. O prazo, que terminava a 30 de abril, foi prolongado até 31 de maio, conforme indicado no Despacho conjunto da Ministra da Administração Interna e do Ministro da Agricultura e Pescas.

A decisão prende-se com a precipitação registada nos últimos meses e o elevado teor de água existente no solo, que condicionaram muitas das operações de gestão de combustíveis e potenciaram o rápido crescimento da vegetação nas áreas já intervencionadas.

Estas determinações abrangem todas as áreas devolutas, privadas ou na posse das autarquias como loteamentos próximos de habitações. onde a vegetação arbustiva espontânea cresceu desmesuradamente.

A questão é que estes terrenos caso não sejam regularmente controlados, começam a gerar pequenos ecossistemas de vida selvagem onde os roedores e os répteis são os vilões. Porém, nestes singulares estratos de Natureza, geram-se equilíbrios naturais autorreguláveis: as plantas são controladas pelos roedores, estes pelos répteis e os últimos por diversos predadores. Logo que o tempo se torna mais ameno começam a despontar flores que captam insetos que por sua vez atraem as aves.

É evidente que ninguém, de um modo geral, gostará de ter um cenário de documentário televisivo de vida natural à sua porta. Mas Portugal contrariamente a outros países não possui parques com áreas naturais. Onde se cria um parque, logo é plantada uma mesa de farnel que se multiplica por metro quadrado. Depois há o genético hábito português de deixar tudo para o último dia. As limpezas a que assisti foram mal realizadas, porque apressadas, nos derradeiros dias de abril para evitar as coimas.

Porque sou um ambientalista, custou-me ver nestes primeiros dias de maio os terrenos alegadamente limpos, cheios de cascas de ovos e ninhos desfeitos. Sim, a maioria das aves faz os ninhos em buracos nas rochas e mesmo no chão como as Fuinhas-dos-juncos, ou em vegetação arbustiva como os melros, as toutinegras e os rouxinóis do belo canto. Só espécies, como chapins, carriças, milheirinhas ou pica-paus, procuram árvores velhas, que possuam pequenos buracos.

E aqui chegados, as aves encontram um novo problema: as podas radicais e tardias. É que além de ficarem sem um sítio adequado às posturas, a partir da altura em que os juvenis se tornam independentes, estas aves dendrobatas reúnem-se em bandos numerosos e procuram as árvores maiores e mais antigas com densa folhagem onde se misturam por vezes às centenas com as aves dos beirais e que utilizam como refúgio e dormitório durante o verão e o outono.

Ouço por vezes as pessoas mais sensíveis dizerem que o ruido aumentou nos jardins das cidades. É verdade. Mas também diminuiu quem fazia o contraponto: as aves. É que se olharem em redor veem apenas troncos de árvores de ramos decepados. facto que é ainda mais confrangedor, numa localidade mais pequena onde existe por vezes só uma velha árvore remanescente à passagem dos anos.


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