Futebol: desporto de ricos ou de pobres?

19-06-2023

Lady in Red,
"O futebol é uma profissão mais privilegiada que a maioria, geralmente com salários acima da média nacional."


Existe, um pouco por todo o mundo, pelo menos na minha humilde opinião, a noção pré-concebida que o futebol é um desporto de ricos. Além de todo o dinheiro que gera, além do preço exorbitante que se vai verificando nos bilhetes, os jogadores seriam pagos acima da média. Contudo, penso que, por vezes, nos deixamos enganar pelo enquadramento e pelo facto de termos quase "visão de túnel" para considerar apenas os valores exorbitantes que sabemos de jogadores como Ronaldo, Messi e Mbappé (ou atualmente qualquer um que vá para a Arábia Saudita para usufruir de uma reforma dourada).

O futebol é uma profissão mais privilegiada que a maioria, geralmente com salários acima da média nacional. Há obviamente casos em que tal não se verifica, quando falamos de escalões de competição inferiores ou do futebol feminino. A realidade dos atuais ordenados mínimos para atletas da liga feminina, em Portugal, é de 665€ mensais, embora efetivamente exista uma nova proposta para o equiparar ao do setor masculino (2280€). Daqui concluo que em Portugal ser jogadora de futebol nem parece ser considerado uma profissão dado que o valor base se encontra abaixo do salário mínimo.

Todavia, ainda fico surpreendida em como o futebol também pode ser tão pobre em outras áreas. Já abordei o racismo e xenofobia, mas também o reverso da medalha com a solidariedade no desporto. Já abordei os benefícios físicos e mentais, mas também o quão desgastante pode ser quando se é um atleta de alta competição.

No futebol, como tudo na vida, não há só preto e branco, há uma infinidade de outras cores. Nestes dias anda-se a discutir uma variante muito negra.

Mário Costa demitiu-se, muito recentemente, do cargo de presidente da Mesa da AG da Liga. O mesmo Mário Costa não se demitiu para passar mais tempo com a família ou porque almejava uma mudança de carreira. Mário Costa é suspeito de estar envolvido em tráfico humano, caso em investigação por parte do SEF.

Concordo com a mantra da justiça que todos são inocentes até prova concreta em contrário. Contudo, esta realidade, a confirmar-se, não será de todo caso único. O dirigente é suspeito de estar envolvido em negócios ilícitos com jovens jogadores provenientes da América do Sul e também do extremo oriente. Neste caso, o fundador da academia de futebol BSports ainda teria solicitado ao governo para acelerar o processo de emissão de vistos para estes atletas.

Segundo o próprio Mário Costa, este não praticou "nenhum ilícito criminal". Não sei de cor as leis do nosso país, mas eticamente estaria sempre "em cheque". Segundo a informação recolhida, estes adolescentes estariam sem acesso à escola (sendo as aulas online ou dados por "professores" da academia), teriam pouco contacto com a família e estariam amontoados em camaratas e sem acesso ao exterior, entre outros. Enquanto isso as famílias dos mesmos estariam a pagar valores entre os 500€ e 1800€, ou mais, para viver nesta "fantástica academia".

É urgente serem tomadas ações mais eficazes no combate a este tipo de situações. João Paulo Correia, secretário de Estado da Juventude e Desporto, já referiu que vão ser tomadas medidas imediatas, procurando-se detetar o surgimento deste tipo de negócios e a garantia que existe um barómetro das condições mínimas para que estes jovens possam perseguir o seu sonho. Oxalá que sim, que haja mais transparência no mundo do futebol.



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