Doping no ciclismo

29-07-2023

Lady in Red,
"Infelizmente comprovou-se que não é assim tão fácil acreditar em super-heróis e este desporto encontra-se há muito tempo envolto sobre o fantasma do doping."


O ciclismo é um desporto antigo, sendo que assenta raízes na realização de atividade tão simples como aprender a andar de bicicleta e depois tornar isso umas 100 000 vezes mais difícil, ficando-se a possuir a resistência física para fazer centenas de quilómetros, parte deles em montanhas de alta inclinação. Este desporto exige uma dedicação incrível para atingir uma forma física que permita a concretização destes objetivos. Aliás, lembro-me de ser mais nova e de pensar nos ciclistas como uma espécie de super-heróis uma vez que achava impossíveis os feitos que alcançavam.

Infelizmente comprovou-se que não é assim tão fácil acreditar em super-heróis e este desporto encontra-se há muito tempo envolto sobre o fantasma do doping.

Lembro-me de Lance Armstrong, quando todo o mundo já assumia esse facto como uma verdade, perder todos os títulos conquistados na Volta à França. O próprio viria depois a admitir a veracidade das informações, dizendo que era algo "comum" na época. Em Portugal a Operação Prova Limpa dizimou a Volta a Portugal, registando-se severas punições a vários ciclistas. Estes casos, aos que se juntam ainda os casos relacionados com o passaporte biológico, estão a deixar profundas marcas no ciclismo português e a manchar, principalmente, o prestígio da Volta a Portugal, prova rainha da modalidade no nosso país.

O próprio passaporte biológico foi referenciado como um "passo enorme" na constante luta contra o doping que o ciclismo enfrenta há tanto anos. Atualmente, em Portugal, o passaporte biológico é obrigatório para todos os corredores das formações lusas, procurando-se que seja um "gesto de salvação da credibilidade" desta modalidade que tanto caiu em descrença devido a este fator – diga-se que esta medida já era aplicada para equipas WolrdTour e Procontinentais (os dois primeiros escalões). De uma forma sucinta este passaporte biológico monitoriza, recorrendo a amostras de urina e sangue, alguns parâmetros biológicos que são usados para avaliar os efeitos da utilização de substâncias proibidas.

Contudo estas medidas chegam tarde. Ainda na muito recente Volta à França, prova por muitos considerados como a rainha da modalidade, foram levantadas suspeitas de doping. Em defesa dos ciclistas os pressupostos para o levantamento destas suspeitas nem eram factuais, mas apenas históricos, derivado do ceticismo dos fãs por culpa de todos os eventos passados. Tanto Jonas Vingegaard como Tadej Pogacar assumiram uma postura que considero ser a mais saudável e a que mais facilmente voltará a colocar o ciclismo na "estrada correta". Ambos compreendem e consideram perfeitamente normal que a modalidade ainda esteja envolta nesta "nuvem de ceticismo" e que seja necessário tempo para mudar mentalidades.

O ciclismo possui atualmente condições melhores do que nunca antes, derivada da tecnologia, nutrição e preparação física dos corredores. Logo tem tudo para voltar a ser o desporto de super-heróis, mas de super-heróis humanos que também quebram, como Pogacar comprovou quando "desfaleceu" e perdeu mais de 6 minutos para Vingegaard, colocando um ponto final na luta pela Volta à França este ano.

A igualdade de circunstâncias, bem como a proteção da saúde dos atletas, é vital na luta por um mundo de desporto o mais justo possível. Lance Armstrong indiciou que o doping era um aspeto comum no ciclismo e como tal, uma vez que ao "alcance de todos", seria basicamente admissível. Contudo, no ciclismo, tal como na vida, a junção de muitos comportamentos errados nunca deveria equivaler a um comportamento considerado aceitável.


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