Desculpem mas não resisto...

07-01-2023

Dom Queixote,
Com as confusões vividas no nosso panorama político, surgem ideias novas e também confusas!


 De há uns meses a esta parte, quase diariamente, é abertura de noticiários a sucessão de trapalhadas que envolvem os membros do nosso governo, com constantes suspeitas de corrupção, pedidos de esclarecimento, demissões de ministros e secretários de estado, alguns com permanências "flash" nos cargos, de fugazes dias ou horas...

Até agora fui ficando tristemente perplexo com este chorrilho de novidades da política que em nada favorecem a democracia. Entretanto, tomei nota das exigências dos vários partidos, ouvi as explicações do governo, as opiniões dos comentadores televisivos e as ondeantes posições do Presidente da República, mas agora... Agora, desculpem, mas não resisto!

Não resisto a dizer que algo vai mal, mas mesmo muito mal! Sobretudo porque não me identifico com um número de neoconceitos que se quer fazer crer serem endógenos do ideário democrático e que, quanto a mim, estão muito longe daquilo que é o "governo do povo".

Não vou aqui opinar sobre possíveis crises políticas e governos mais ou menos caducos, não é isso que pretendo, mas não posso concordar que, em nome de um bem maior que é a estabilidade governativa, se esqueça o que de mais puro e cristalino pertence à democracia: a aceitação de vários pontos de vista. Ao procurar-se instituir a ideia de que a única forma estável de dirigir um país é através de maiorias absolutas de um só partido, estamos claramente a abdicar dos princípios fundamentais democráticos, retirando a oportunidade à participação plural. Do que me ficou da revolução de abril é que a opinião de todos é importante, que só assim se avança... É, mas já lá vão quase cinquenta anos e as mentes já não são as mesmas!

É um lugar comum dizer-se que uma mentira repetida muitas vezes se transforma numa verdade e, desta feita, analistas e comentadores, fazedores de opinião e políticos, estão a tentar convencer-nos que a democracia não obriga ao pluralismo de opiniões porque o país só tem estabilidade se houver uma maioria de um só partido na Assembleia da República.

Se assim é, o mal não estará certamente na ideologia democrática, mas na falta dela no pensamento dos nossos agentes políticos, que parece já terem esquecido que, no século passado, durante quatro décadas, o país viveu com "estabilidade governativa" graças a uma maioria absoluta de um partido só...

Não vivemos numa ditadura, mas se continuarmos paulatinamente a permitir que as conquistas de abril estejam expostas à erosão dos interesses pessoais, económicos ou puramente partidários, se nada fizermos, e se permitirmos que se instale este tipo de pensamento que nada tem a ver com a vivência democrática, estaremos certamente a caminhar para outra coisa: talvez uma democradura!

Podemos continuar a consentir que vinguem novas e iluminadas teorias sobre o que é a democracia. Poder podemos, Mas Eu Não Faria ISso!


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