Crónicas das Ecovias 2
Ecovias ou ciclovias?
No Dicionário Priberam da Língua Portuguesa o significado de ciclovia surge como "Via reservada ao trânsito de bicicletas". Já no Dicionário Online de Português pode ler-se "pista de uso exclusivo para bicicleta que pode ser construída acompanhando o traçado de ruas e avenidas, como as ciclovias à beira-mar, ou dentro de parques públicos"
Os significados são similares e adaptam-se perfeitamente ao uso da bicicleta na maioria dos países evoluídos da Europa. Aliás não consigo traduzir ecovia para outras línguas como inglês, alemão, Holandês ou mesmo francês. O conceito de ecovia não existe. Digamos que é mais um estereótipo pseudoburguês bem à portuguesa.
É uma questão de mentalidade. No centro e norte da Europa, quer neve, chova, troveje, ou faça sol, a bicicleta é o transporte primordial de casa para um determinado destino é usual uma pessoa ao deslocar-se de comboio deixar um velocípede aparcado na estação de partida e ter outro no parque de bicicletas na estação de destino.
E a idade não constitui barreira. Só os acamados ou os recém-nascidos não pedalam embora acompanhem os pais em atrelados adaptados. E o curioso é que muitas crianças aprendem primeiro a usar a bicicleta do que a andar.
Os PDM de algumas cidades portuguesas já preveem a criação de ciclovias ao longo do traçado de algumas ruas, mas ao comum «parolito lusito» interessa mais o conceito expresso na segunda significação e é vê-los aos fins de semana equipados a rigor como se fossem ciclistas de alta competição «passearem» bicicletas topo de gama pelas chamadas ecovias inauguradas pomposamente por autarcas de taxa arreganhada para a fotografia à custa de milhões do erário público ou de fundos do QREN.
Acedendo ao sítio https://www.ciclovia.pt/ tem-se uma ideia geral do que já foi gasto e está previsto ser ainda despendido neste capítulo, porque a legislação recentemente aprovada no que concerne à circulação de bicicletas nas estradas, sustenta este fenótipo do arquétipo novo-riquismo nacional.
A exemplo pode ler-se nos objetivos da construção de Ecopistas - "contribuir para a promoção do desenvolvimento integrado das regiões, reunindo pontos de interesse histórico/culturais, o turismo, o recreio e o lazer, incentivando à conservação da natureza e valorização dos sistemas naturais existentes. Pode ainda ler-se que na Veiga de Friestas e Lapela (Minho) foi criado um Observatório de Avifauna, que permitirá aos turistas visionar as várias espécies que aqui habitam. Falácia, porque a avifauna local se foi deslocando para Espanha à medida que a ecopista avançava, devido ao ruído, excesso de movimento e perda de habitat, contrariando desde logo um dos objetivos argumentados.
Se em pontos das ecovias se aproveitaram trilhos já existentes, noutros foi feita uma objurgatória ocupação das margens dos rios não se respeitando o leito de cheia e pior, derrubando árvores e posterior limpeza da vegetação ripícola rasteira para desfrute total da paisagem como sucedeu a norte da Praia da Lenta em Vila Nova de Cerveira no rio Minho como já foi referido em artigo anterior. Resultado: além da fuga da avifauna para a margem espanhola, a terra das margens já começa a desprender-se provocando o assoreamento do rio como pude verificar in loco num destes dias em que agricultores locais esperaram horas pela maré cheia para que a boca das tubagens de captação de água ficasse coberta pelo rio. Por onde andam os assessores destes senhores que decidem tão mal?