Aurora
Posso falar o que eu acho? @Anabela Reis
" Gosto dos loucos, porque não se contentam com pouco e nunca se vão conformar. Sua sabedoria resume-se apenas em sonhar e amar."
Mário Franco
O calor do dia mantém-se pela noite dentro e fica pior com o quente da cama. Não consigo dormir. Abri a porta da varanda do quarto, mas vento não há nenhum e só uma baforada abafada da pedra do chão da varanda se sente, logo.
Sento-me e vejo a noite nada escura, que a lua está cheia.
Ouvem- se as ondas do mar e na planície azul-noite, em que a lua se reflete, distinguem-se pequenas luzes, fracas, amarelas…barcos de pesca.
O meu olhar percorre o espraiar das ondas até ao pontão onde se ergue o farol, sempre vigilante. Ao lado, uma sombra com silhueta humana. Os meus olhos afunilam-se e perscrutam aquela figura em pé, virada para o mar, como a reforçar a vigilância do farol. Fixou-se toda a minha atenção naquela imagem. Não se mexeu durante o tempo que estive a bisbilhotar a singularidade.
De manhã desci para o pequeno almoço e a imagem daquela sombra acompanhava- me.
A curiosidade é a indiscrição a ferver com as suposições da criatividade ….
Olhei para a Sra. Carla, na sua farda preta, a servir os hóspedes.
Chamei-a. Contei o que havia visto.
"Ah! É a Aurora do Mestre! Há mais de 20 anos que anda nisto, todos os dias, à mesma hora, faça o tempo que fizer, lá vai ela para o pontão à espera de ver o barco do homem chegar. Coitada…! Fica ali até que chegue a manhã. Sempre com a mesma roupa preta e o xaile que era da mãe pelas costas, ou pela cabeça se estiver a chover. Não há quem lhe tire a ideia … continua a dizer que um dia ele ainda volta. Tinham casado há uma semana. Era a 1ª vez que ele ia ao mar depois da boda. Nunca voltou. Lá ficou. Ele e os outros. Mas a Aurora nunca aceitou a morte.
Vai continuar a fazer o mesmo até que a morte a leve.
Todos dizem que está louca.".
Ficou-me a curiosidade meio servida. Gostava de saber mais daquela Aurora vestida de preto que não se separa do xaile da mãe. Aurora, com nome de claridade do novo dia…
Aurora, não sei se estás louca.
Não sei se morrerás numa ida ao pontão.
Uma coisa eu sei, Aurora, que acreditas que, como diz o povo, "a esperança é a última a morrer", e isso te mantém viva.
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