As praias e... os cães!
Jolei,
Como a maioria saberá, casaca é um traje exclusivo masculino de uso cerimonial associado a uma certa burguesia, o que pressuporia, levado à letra, deixar os mais humildes de fora ou segregar as mulheres. Porém, não farei tal, contrariando a semântica intrínseca da palavra. Afinal, a responsabilidade consequencial ao nível de procedimentos dignos de nota de reparo é, neste capítulo, absolutamente pluralista. Por isso, nesta seção todos estarão sujeitos a apanhar uma casaca de água sem escarnecer, difamar ou denegrir.
Peguemos então na tesoura que nem eu nem você nos inscrevemos de todo no perfil do PL,
(abreviatura do epíteto da personagem que dá tema à série de crónicas, que hoje inicio).
Mas será mesmo assim? Ao longo da série você, como eu já o fiz, irá enfiar a tesourinha na
algibeira pois num ou outro momento já assobiou para o lado como ambientalista farsante.
Afinal o ambiente nunca irá descobrir nossas facadinhas conjugais e Portugal não é exclusivo
na paradigmática estigmatizante comportamental. Nos Países Baixos também haverá um
«baixito», no Reino Unido um «bretãozito» e por aí fora onde haja gente.
No mesmo sentido estaria a caçoar de mim mesmo ao assumir me como dono de uma razão
eidética que só existiu na mente do sábio Platão. Pessoalmente parto sempre da premissa
de que a sabedoria tem dúvidas, a ignorância, certezas absolutas.
Então, às três pancadas corro o pano e a primeira cena começa. Esta semana li no Público
que noventa praias concessionadas do continente já permitem a frequência de cães
acompanhados dos donos durante a época balnear. Esta prorrogativa que anteriormente
apenas comtemplava cães de serviço como cães guia para cegos, abrange agora todas as
raças de patudos mesmo as mais perigosas desde que munidos de açaime e trela que não
exceda um metro. Praias em que a presença de cães continue proibida, têm de possuir
sinalética e as prevaricações podem incluir coimas até 2500 euros. Em áreas de praia não
concessionadas não há restrições.
Embora não seja referido na notícia esta norma pretende obviamente combater o abandono
dos animais tão frequente nesta época.
Mas, a avaliar pelo tradicional comportamento do PL no que concerne a canídeos tanto nos
passeios das ruas, como nos jardins públicos, não sou eu quem levará os meus netos a
frequentar estas praias. É que além da imprevisibilidade relacional dos cães com estranhos, há
a questão higiénica. Que erga o braço quem nunca levou para casa um presente no calçado
oferecido gentilmente pelo PL depois de caminhar distraidamente pelo passeio ou ao
atravessar um relvado.
As pessoas convencionadamente civilizadas que possuem cães de companhia em casa e levam
os seus animais à rua para defecar usam normalmente trelas com sacos para recolha das fezes
porque a ausência do acesso a estes nos percursos pedestres, é um facto na maioria das vezes.
Mas o PL não. As trelas têm um comprimento não regulável e não possuem sacos.
Normalmente são as mesmas com que prendem os cães nos quintais.
Mas a notícia refere que estas praias abertas a cães já estão preparadas higienicamente,
incluindo até bebedouros e, quem não respeitar as regras, a sua entrada será recusada pelos
concessionários
No entanto há outra questão que me assalta. Nas não concessionadas os cães andam em total
liberdade e se há pessoas que controlam os animais de modo a não incomodar os outros
frequentadores, para o PL isso não é relevante. Pelo contrário. Se evitam sarilhos comos seus
pares, galvanizam-se ao observarem seus cachorrões numa desenfreada perseguição a
gaivotas e outras aves aquáticas como os borrelhos-de-coleira-interrompida que fazem do
areal o seu habitat.
Aliás esse é um dos motivos porque muitas gaivotas trocaram desde há muito os areais pelos
telhados das casas e prédios de cidades distantes da costa como Braga para nidificar.
Por outro lado, várias ONGs aliaram-se para proteger os ninhos das limícolas classificadas pela
Bird Life International em situação preocupante ou mesmo em risco, utilizando cercas feitas
com paus e redes. Infelizmente, muitos são destruídos antes das crias nascerem ou se
tornarem independentes. E desço o pano por hoje. Até breve.
Jolei