A verdade do VAR

06-03-2023

Lady in Red,
Pensou-se que o VAR seria o embaixador da verdade desportiva, mas não o é!


Após a desilusão portuguesa no Campeonato do Mundo, todas as atenções se voltaram a centrar nas competições nacionais internas. Além dos fins de semana repletos de futebol, voltaram também as semanas a debater as arbitragens e, principalmente, a utilidade do VAR.

Enquanto pensava como queria abordar a escrita deste texto, procurei a definição listada em dicionário para a palavra VAR. A definição do dicionário de Cambridge foi, sem dúvida alguma, a que mais me chamou a atenção:

  • Abbreviation for Video Assistant Referee: an official who helps the main referee (= the person in charge of a sports game) to make decisions during a game using film recorded at the game:
  • The VAR can ensure that no clearly wrong penalty decisions are made.

Deste modo, e traduzindo a definição acima, o VAR pretende auxiliar o árbitro principal e "garantir" que não são tomadas decisões incorretas durante o jogo. Confesso que o que me chamou a atenção foi mesmo o conceito de se achar que o VAR iria "garantir" a verdade desportiva de uma forma absoluta. Na minha modesta opinião isso não poderia estar mais longe da verdade.

O VAR é, tal como a definição sugere, uma "ajuda" extra, mas continua a ser uma variável dependente de interpretação humana. Como tal, continuará a ser falível e mais uma "arma de arremesso" nos fantásticos programas televisivos que ocupam os serões pós-jogos.

Concordo que se prova uma ferramenta útil na marcação das linhas de fora de jogo, mas até aí já são várias as situações registadas de erros, traçando de forma incorreta as linhas. O VAR permite a visualização de repetições das imagens vezes sem conta, mas quem tomará sempre a última decisão será o árbitro, um humano, com base nas regras definidas, mas também na sua interpretação do lance. O VAR não é um robot que lê as regras do futebol e comunica ao árbitro a decisão que considera ser a mais correta com base na análise efetuada.

Outro exemplo flagrante de como a última palavra ainda é do árbitro foi o sucedido no jogo Fiorentina – Braga. Segundo a tecnologia da linha de golo, a bola tinha transposto completamente a linha da baliza, sendo, portanto, válido o golo da Fiorentina. Contudo a equipa de arbitragem considerou que claramente o chip devia ter algum defeito e concluiu que a bola não tinha entrado na baliza, invalidando o golo. Este será o caso mais evidente que a tecnologia está a desenvolver ferramentas para tornar o futebol mais justo, mas o poder de decisão ainda está completamente focalizado no indivíduo com o apito. Neste caso o árbitro deve ter considerado que a bola não tinha "intenção" de ter ficado aqueles milímetros extra para lá da linha.

Concluo assim que o VAR é uma ferramenta "assistente", mas não irá apagar de todo a discussão de decisões polémicas do jogo. Aliás, julgo que até as potenciou ainda mais uma vez que agora todas as decisões são ainda mais dissecadas, há cada vez menos desculpa para errar com todas as condições "extras" oferecidas para análise dos lances.

Penso que havia expetativas demasiado elevadas para o VAR. Pensou-se que seria o embaixador da verdade desportiva. Não o é. Mas, para mim, a possibilidade de erro humano é parte do cocktail que torna o futebol tão apaixonante, é mais uma variável incontrolável e imprevisível – e se fosse completamente erradicada, talvez este desporto perdesse parte do que o torna tão envolvente.

  • P.S.
    Concordo que o Vizela foi prejudicado no sábado, 25 de fevereiro. Pelo menos na minha opinião do que sei de futebol e arbitragem. Aguardo o dia em que os nossos clubes reconheçam abertamente quando são beneficiados. Quando o fizerem podem também lamentar-se de serem prejudicados.
  • P.S.2.
    Posso esperar sentada que algo remotamente similar ao que escrevi nas linhas imediatamente acima aconteça.

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