A saúde mental no desporto

22-12-2022

Lady in Red,
O tópico da saúde mental tem sido cada vez mais abordado (e bem), principalmente após o período mais crítico da pandemia e nas sequelas que este acontecimento poderia deixar.


Nesta quadra festiva vemos inúmeros anúncios focados nos problemas de saúde mental e no impacto que os mesmos podem ter. O desporto pode ser uma das chaves que ajuda a "combater" estas problemáticas uma vez que a prática do mesmo promove um estilo de vida mais saudável e equilibrado, fortalecendo-nos contra momentos de stress, depressão, ansiedade ou até declínio cognitivo.

Contudo, há também o reverso da medalha, principalmente naqueles que praticam desporto de alta competição. O mundo do desporto gera cada vez mais dinheiro e os atletas são atualmente encarados como um meio para atingir a maior rentabilidade possível. A famosa frase de Pierre de Coubertin, reconhecido como fundador dos Jogos Olímpicos da era moderna, já há muito caiu em desuso. O importante é vencer, muito mais do que competir ou competir com dignidade.

Desta forma, facilmente se compreende como os problemas de saúde mental podem atingir cerca de 45% dos atletas de alta competição. Estamos a falar de uma estirpe humana que geralmente começa a treinar desde a infância com propósitos muito definidos e com objetivos fixos e de superação constante. Obviamente que quem deseja atingir o sucesso deve ter sempre alguma ambição, mas não desmedida nem a qualquer custo.

Atualmente há cada vez mais atletas ou ex-atletas a alertar para estes perigos. Por exemplo Michael Phelps foi um "deus olímpico", quebrando inúmeros recordes. Phelps mencionou que após deixar as piscinas (pela primeira vez, após Londres 2012) sofreu uma depressão grave. Estes atletas estão tão formatados para um foco único que quando a carreira acaba sentem dificuldade em delinear novos objetivos de vida e aproveitar a mesmas.

Mais recentemente Naomi Osaka desistiu de Roland Garros (em 2021) porque não estava a conseguir lidar com a ansiedade e toda a pressão associada à prática de desporto de alta competição. Nesta era das redes sociais os atletas estão sobre um intenso escrutínio e toda a sua vida é analisada e comentada, seja ela pessoal ou não.

Nos Jogos Olímpicos de Tóquio Simone Biles mencionou que a sua estabilidade e saúde mental estariam acima de qualquer medalha. A excecional atleta abdicou de várias provas porque não se sentia capaz de as executar com confiança e em segurança, mencionando que já não estava a sentir gosto nem alegria naquele momento, apenas estava a tentar fazer o que seria esperado dela.

O mundo do desporto de alta competição gera milhões e milhões, mas os atletas continuam apenas a ser humanos. Humanos com um conforto económico que o comum dos mortais nem pode imaginar, mas humanos ainda assim, com problemas reais e que não precisam de ser escrutinados e despedaçados pela imprensa ou redes sociais.